quarta-feira, 6 de junho de 2012

Por que clamar em favor da Igreja?

Rev. Luiz Caetano Grecco Teixeira

Desde o Domingo da Trindade, a Paróquia São Paulo Apóstolo começou uma campanha interna de clamor em favor da Igreja de Cristo: por toda a Igreja e particularmente pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e a Comunhão Anglicana. Por que a comunidade decidiu isso? Uma reflexão no Pentecostes sobre o estado da Igreja no mundo e, particularmente no Brasil, levou-nos reconhecer a necessidade de – mais que uma intercessão – iniciarmos um clamor.

CLAMAR é o ato de manifestar diante de Deus a nossa indignação e a nosso completo desacordo com a realidade que vemos! e é manifestação de compromisso em OUVIR o SENHOR e OBEDECER À SUA VONTADE! Para compreender o conceito de clamor, sugiro meu artigo no blogue da Paróquia São Paulo Apóstolo, “Clamor!”.

É momento de deixarmos os ufanismos, as ilusões e reconhecer que a Igreja Cristã no ocidente está perdendo o senso de identidade e de missão concreta, como um barco sem rumo claro… a cada tempo surgem e desaparecem modismos teológicos e ideológicos; a tendência da Igreja é navegar (surfar) na onda do momento. Em meio às grandes negociatas da venda de bênçãos, da tentação do sucesso rápido e da nossa incapacidade de mudar nossos paradigmas, a Igreja Cristã Ocidental está sofrendo de uma gravíssima perda de identidade e de sentido de Missão realmente obediente ao mandato do Senhor. 
Limitando-me ao Brasil e à Igreja onde vivo minha fé em comunidade (congregação e denominação) tenho refletido sobre o atual estado dessa Igreja e partilhado isso com a comunidade aos meus cuidados pastorais, com companheiros e companheiras de ministério e lideranças em todo o Brasil. Surpreende-me o fato que, ao partilhar meus temores e indignações, vejo muitas dessas pessoas manifestarem os mesmo sentimentos, preocupações e mesmo indignações! 

Acontece que a Igreja está se tornando anacrônica em relação ao caminhar da sociedade. Ao afirmar isso, não estou propondo que a Igreja se deixe levar pelos rumos da sociedade, mas que deve reconhecer tais rumos, fazer uma avaliação à luz do Evangelho e agir profeticamente de forma adequada e eficaz. Para agir de forma profética e com eficácia, a Igreja necessita adaptar-se ao tempo presente, mudar sua própria visão do mundo e sua auto-compreensão. Hoje os desafios para a Missão e para a Presença da Igreja no mundo são outros! Exigem novos métodos de abordagem e análise, e de enfrentamento. Mais do que discurso teológico, é necessário que a Igreja reformule sua compreensão de si mesma, reveja os princípios eclesiológicos que determinam e justificam sua atual organização e sua administração, por exemplo, e até mesmo sua missão. É preciso que a Igreja tenha a coragem de reformar-se! 

Nas últimas postagens neste blogue, abordei vários desses aspectos: “Romper paradigmas”, “Velhos paradigmas fantasiados de novos”, “Do poder e do penico”, além de outros mais antigos; portanto, não vou abordar tais aspectos. Neste artigo quero colocar mais um aspecto, o aspecto institucional da Igreja. 

A Igreja, todas as Igrejas (denominações) são instituições sociais, estão presas e dependentes dos movimentos da sociedade humana. É um erro teológico pensar a Igreja apenas como o Corpo de Cristo sem levar em consideração que – sendo uma organização formada por pessoas – a Igreja é também uma instituição social, participa da sociedade e sofre os reveses e os avanços da sociedade onde está inserida. 

Como qualquer organização, a Igreja necessita ser administrada e bem administrada se quiser continuar existindo. É de grande ingenuidade pensar que a Igreja é diferente de uma empresa ou de qualquer outro empreendimento. A Igreja, como as empresas e qualquer outra instituição, deve ser administrada dentro de parâmetros técnicos adequados que permitam exercer seu papel na sociedade e cumprir sua missão. A Igreja, como qualquer organização humana, deve ser capaz de gerir e bem seus recursos, sejam eles humanos, financeiros, patrimoniais e espirituais. Na complexidade do mundo hoje, gestão não é improvisação, mas ação profissional, exige conhecimento técnico, e não pode ser exercida apenas pela boa vontade de pessoas sinceras e honestas, mas amadoras, que dedicam seu tempo voluntariamente para isso. O clero não é preparado para isso, por exemplo (aliás, tem sido tão mal preparado, que nem mesmo sei se consegue dar conta dos desafios pastorais que enfrentamos – e não falo exclusivamente da IEAB!), e o laicato muitas vezes é alijado da administração ou se limita a pessoas de boa vontade, nem sempre com o conhecimento técnico adequado, e que atuam voluntariamente.

Já vi, em várias ocasiões, opiniões técnicas bem fundamentadas serem recusadas pelas lideranças institucionais da Igreja sob o argumento que “Igreja não pode ser assim, Igreja não é empresa”, para justificar certas decisões administrativas totalmente insensatas e que com o tempo mostraram resultados nefastos e enormes prejuízos para a instituição… Acontece que Igreja é uma empresa sim, uma instituição, está assentada neste mundo, mesmo sendo uma “empresa de Deus”. 

Gostamos de representar a Igreja como “rebanho de Cristo”, quem, aliás, têm muitas fazendas… somos chamados a cuidar do rebanho do Senhor, COM O SENHOR, mas muitas vezes deixamos de OUVIR a voz do dono… rebanhos, fazendas, precisam ser bem administrados… Ou então gostamos de pensar a Igreja como “A Barca de Pedro”, esquecendo que Pedro era pescador profissional, sabia navegar e conduzia seu barco com técnica adequada e prudência mas quando o Senhor lhe mandou jogar as redes para o outro lado, ele deu ouvidos e fez o que o Senhor falou! (cf. João 21.4-6). 

Não serão nossos planos amadores mirabolantes, muitas vezes desesperados, que salvarão a Igreja de Cristo. É preciso dobrar o o joelho e clamar para que o SENHOR DA IGREJA a reforme plenamente! 

“Renova Senhor a Tua Igreja, começando por nossa Congregação, nossa Diocese, nossa Província!”. Esse tem sido o brado que estamos orando na São Paulo Apóstolo. 

Convido você a unir-se à nós. Se você não é episcopaliano, faça isso pela sua denominação. Ela também está ficando à deriva!

(Texto de Rev. Luiz Caetano Grecco Teixeira, in: Pirilampos e Pintassilgos. Acesso em 6 de jun 2012).