quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

... AINDA EXISTE O PECADO?

 José de Deus Luongo da Silveira 


            “Não existe pecado do lado de baixo do equador...”
Chico Buarque
Tudo o que Deus criou é bom e só o que ele criou existe. Portanto, pecado é uma ilusão, ele não existe, pois Deus não o criou”. 
 Shigueoka

Para a tradição ortodoxa, o Mal “não tem substância, mas é a falta do Bem, (...) é desarmonia, ausência de beleza, de vida, de inteligência”.
Teólogo Ortodoxo Lambros Siassos

 “Ó feliz culpa! (de Adão e Eva) Que nos trouxe o benefício de um tão grande Salvador!”.
 Santo Agostinho.

“Não consigo entender o que faço; não pratico o que quero; pois não pratico o bem que quero, mas faço o que detesto. Não faço o bem que quero, mas pratico o mal que não quero. Ora, se eu faço o que não quero, já não sou eu que estou agindo, e sim o pecado que habita em mim. Constato pois a lei: quando eu quero fazer o bem, é o mal que se me apresenta. Eu me comprazo na lei de  segundo o homem interior; mas percebo outra lei em meus membros, que peleja contra a lei de minha razão e que me acorrenta à lei do pecado que existe em meus membros”.
Rm. 7, 15-23.

1.     O SURGIMENTO DA IDÉIA DE PECADO, DE TABU OU DE INTERDITO

       É possível que inicialmente a idéia tabu e de interdito não tivesse conotação religiosa, surgindo da experiência casual se constituísse na primitiva forma de organização da sociedade, que estabelecia padrões para regular a insipiente vida comunitária. A experiência e o fascínio do sagrado, esse encantamento do mundo,  num primeiro momento, poderia ser não-religioso e estar ligado à experiência duma ontofania, onde o sagrado permeia toda a realidade e exprime a significação incondicionada[1].

       O homem percebeu-se, desde cedo, mergulhado numa complicada rede de experiências concretas que vão das motivações biológicas às influências do grupo social, envolvendo a apreensão de imagens, de circunstâncias e fatos que povoam seu cotidiano. Como ser biológico, o homem vive e sente, mas


Não possui ele a inocência do animal, que pode abandonar-se à sensibilidade e ao instinto para orientar-se na vida; mas primeiro, deve conhecer bem o que ele é, e logo, conhecer o mundo e a realidade de que faz parte, e depois viver, orientar-se livremente, de conformidade com este conhecimento profundo[2].

       A partir dessa ótica, a realidade toda se apresenta como um campo aberto, com diferentes graus de comunicação, mas passível de ser investigada e interpretada. O homem emerge da inteligência concreta, atrelada só às experiências vividas, e penetra no mundo das idéias abstratas, graças à representação simbólica do mundo da linguagem[3], somente nesse ponto é que emerge a idéia de pecado, de transgressão e culpa. Diante do sagrado se estabelece uma estrutura de dialogicidade e de conflitualidade. É evidente a ambivalência do sagrado que se apresenta benéfico e maléfico e onde o sacrifício apazigua e aplaca a ira dos deuses, por causa do pecado dos homens. 
         
       Reconhecemos que se torna difícil qualquer incursão no tempo para reconstituir o passado do homem, o seu modo de vida primitivo, as suas relações com a natureza e a irrupção do divino na trama do mundo. As fontes disponíveis são meros relatos míticos, inscrições e objetos que, de algum modo, refazem o cotidiano do homem durante a fase que vai do eolítico à revolução neolítica. Um recurso disponível de grande alcance, a serviço da sócio-antropologia, é o exame do estilo de vida das comunidades primitivas de hoje, as quais levantam a ponta do iceberg sobre o paulatino desenvolvimento da inteligência, os hábitos de vida e os regramentos sociais.

        A primeira fase de interpretação do mundo caracterizou-se pela alternância entre o desejo e o medo, entre a realidade pré-reflexiva das emoções e a angústia do desconhecido, entre o mundo visível, “concebido como repetição de um ato mítico[4]”, e o mundo invisível e imaginário. Entretanto, o ato de modelar a realidade, muito embora de modo fragmentário, já começou na pré-história. O mundo não-reflexivo não é de indiferença em face aos fenômenos naturais. Desde cedo a ação humana se faz sentir através de uma interpretação da realidade, a partir do desejo de dominar os fatos e acontecimentos a que estava sujeita.  Essa fase não-crítica constrói um conjunto de verdades intuídas capaz de dar suporte às indagações sobre o mundo. O toque do sagrado perpassa todas as coisas, revelando dramaticamente uma gnose intuída, para tentar compreender o enigma da vida e do universo. Nessa fase, os rituais mágicos desempenham o papel de aplacar a ira dos deuses e fortalecer a confiança do homem em si mesmo. A perspectiva do sagrado parte do pressuposto de que o inexplicável depende de ações mágicas, para se tornar propício aos desejos e interesses da tribo ou do grupo. O sacrifício de uma vítima tem o poder para instaurar e restaurar a ligação entre o povo e a divindade.

      A manifestação da consciência coletiva, marcada pelo medo, gera inicialmente o culto às misteriosas forças da natureza e, mais tarde, às divindades funcionais que regulavam os diferentes ciclos da natureza. Permanece atrelada ao coletivo a consciência do eu, de tal modo que a adesão, sem críticas, às tradições do grupo comunitário, modela toda a realidade percebida, onde o pecado individual tem as conotações de coletivo.

       O indivíduo se move dentro de um mundo dinâmico, onde as funções e atividades exercidas pelos diferentes segmentos têm a aceitação dos demais membros da comunidade. É indiscutível que os mais espertos manipulavam a realidade, sob o manto do fantasioso sagrado livremente aceito, para incutir o medo e a insegurança do desconhecido nos demais componentes do grupo. Mesmo porque as regras de conduta social eram ditadas pelos chefes que acreditavam/afirmavam sua procedência divina. É perfeitamente crível que, num primeiro momento, tenha sido esse o entendimento; porém, com o tempo e o desenvolvimento nas relações tribais, aproveitadores manipulavam a estrutura social de acordo com a sua vontade, para obter prestígio ou a preservação de sua autoridade total sobre o grupo liderado.

        Juntamente com os sacrifícios de animais e humanos[5], para a expiação dos pecados do povo, os banimentos do grupo tribal constituíam as mais elaboradas formas de dominação e opressão das sociedades primitivas. As freqüentes exclusões sociais, como forma de banimento na sociedade primitiva, faziam com que o excluído, muito embora continuasse presente, tivesse a sua presença física ignorada e, portanto, acabasse desassistido pela comunidade.

      Desde o início, está presente o critério de domínio do grupo sobre o indivíduo. À adesão irrestrita ao grupo tribal corresponde a única forma de sobrevivência possível. Toda a consciência mítica é perpassada pela experiência comunitária, onde o indivíduo existe em função do grupo a que pertence. A consciência de si mesmo como indivíduo é relativizada pela preponderância do coletivo[6]. Na verdade, é a aceitação tácita do coletivismo sem nenhum traço de individualidade. A consciência mítica funciona como

um processo que foi se sedimentando aos poucos, de modo comunitário, ‘vivo’ e rico em significação e que surgiu espontaneamente no meio do povo, como uma resposta intuída, embora seja possível que a então dominante casta sacerdotal tenha sido responsável por sua manutenção e interpretação[7].

        Encontra-se, como elemento comum nas diferentes culturas pré-históricas, a fase das divindades funcionais, encarregadas dos diferentes ciclos da vida. É possível que também tenha aparecido uma elaborada casta sacerdotal para a prática de rituais mágicos, a fim de aplacar a ira dos deuses. Aproveitando-se dessa estrutura, pode ter surgido a mais terrível forma de dominação, com a prática reiterada de sacrifícios humanos, sob o pretexto de proteger as colheitas e as vidas da ira das deidades[8]. O critério expiatório das transgressões do povo centrava-se nos ritos sacrificais, o sacrifício da culpa ou da reparação e, muitas vezes, exigia imolações humanas. A idéia fundamental dos holocaustos e a significação do derramamento de sangue era o centro da noção de sacrifício que não dependia do querer humano, mas exclusivamente da vontade dos deuses, revelada à casta sacerdotal.

         Já entre os hebreus, no culto oficial, era comum o sacrifício de animais, quando a carne da vítima ou só as gorduras eram consumidas sobre o altar em honra de Javé. Havia também a refeição sacrifical, em que o povo consumia a carne do sacrifício - o ato de “comer e beber na presença de Javé[9]”.  O centro da idéia de sacrifício do povo hebreu era uma tentativa de obter a bênção sobre os rebanhos e frutos. Essas oferendas santificavam os rebanhos e os frutos da terra. Havia também entre os israelitas a idéia de sacrifícios expiatórios pelos pecados do povo[10] e até mesmo a compreensão de que Javé se alimentava das oferendas[11].  Na América, na Ásia e em outros continentes, há inúmeros vestígios de sacrifícios humanos; a própria Bíblia relata o sacrifício de crianças, considerando-o como uma profanação[12], realizada por povos vizinhos[13].

        A questão é saber se, do período Paleolítico Inferior ao Neolítico, essas práticas ritualísticas emergiram só da convicção religiosa, nascidas do imaginário coletivo, ou se constituíram-se, aos poucos, num instrumento de dominação e controle sobre o grupo social.  Parece óbvio que, desde a primeira forma de organização social, os detentores do poder criaram instrumentos para a regulação de seus interesses e privilégios pessoais, camuflados por uma cosmovisão religiosa, que carregava a idéia de pecado e de culpa, essa última advém da violação do costume. Examinando-se as sociedades pré-históricas, percebe-se quão antigo é o processo de dominação. São milhares e milhares de anos de opressão.

        Para o homem primitivo, mergulhado numa estrutura mágica, onde  “o mito é a primeira fala sobre o mundo[14], a realidade é essencialmente dogmática. Aliás, ainda hoje, quanto mais atrasada é uma comunidade ou instituição, mais presa a conceitos fixos e rijos se encontra. Nesses contextos, as regras de conduta coletiva se tornam, aparentemente,  tão evidentes que não se admite contestação, criando o que se convencionou chamar de “tabu”.

       A passagem da realidade pré-lógica para a racionalidade reflexiva teria sido o resultado de um longo despertar, onde a interpretação mítica vai cedendo lugar à percepção da individualidade[15]. O “eu” vai desaparecendo como personagem[16] mergulhado no grupo social e toma consciência de sua individualidade. Contudo, essa ruptura total entre  “mythos”, o componente mágico da realidade, e “logos” nunca aconteceu.

Era de se esperar que os avanços científicos e tecnológicos decretassem a morte do mito, como uma forma de saber ingênuo situado na distante pré-história. Houve, inclusive, alguns pregoeiros, como Augusto Comte, que decretaram a morte do mito (...).  Para o moderno racionalismo parece haver inteira oposição entre o mito e a coisificação do pensamento científico. Entretanto, por mais absurdo que pareça, a moderna ciência fez renascer o mito, tornou o mito possível à medida em que se arvora na única resposta para a realidade  - criando o mito da cientificidade... da certeza racional, do progresso, da liberdade, da democracia, da justiça, da paz, da segurança, do bem comum...[17].


2.      PECADO DE MAIS E PECADO DE MENOS
             Para os Judeus toda enfermidade tinha origem moral e era causada pelo pecado pessoal ou dos pais[18]. Vivia-se sob a égide do pecado. Jesus cura o paralítico dizendo: “Perdoados te são os teus pecados[19]”.  No tempo de Jesus a noção de pecado era distorcida e no mundo de hoje é banalizada. Parece que o homem opta por viver os extremos: “tudo é pecado” e “nada é pecado”. A idéia de que “tudo é pecado” carrega consigo um acidente no programa que Deus estabeleceu na Criação e que o homem não cumpriu. Em razão desta culpa, o homem durante toda a sua existência, vive uma dualidade, como diz São Paulo: quer o bem, mas faz o mal que não quer. Trata-se de um paradoxo racionalmente insustentável: em um mundo não linear é exigido do homem uma linealidade absoluta.
Parece que o mundo ocidental ainda está impregnado do dualismo maniqueísta: tudo o que o que no homem não é bom, é mau. Só existem o mal e o bem. Tal assertiva padece de uma veracidade já na sua origem, porque existem realidades que não são nem boas e nem más, não estão subordinadas ao crivo do certo e do errado. É impossível dizer quão longe o homem pode levar as suas próprias convicções sobre o bem e o mal. No testemunho da história, muitos mataram e morreram pelo que acreditavam serem verdades[20]. Com essa radicalização, o homem torna-se escravo do seu próprio discurso e dele se convence, tão sinceramente, que é capaz de dedicar uma vida inteira à consecução de suas idéias. A compreensão maniqueísta de dividir as coisas entre verdadeiro/falso ainda faz parte do cotidiano das pessoas, cria motivações, projetos de vida e uma decodificação de toda a realidade percebida. São juízos de valores que estão presentes nas mais diferentes manifestações da existência humana. Dessa forma, o homem está preso no labirinto de suas estruturas conceituais e nessa construção ideológica[21] investe a sua própria felicidade. Todo o processo de criação de estruturas conceituais que refletem a realidade dos valores e interesses, como a finalidade da existência, a presença do pecado e do mal etc.
      E aqui está o grande paradoxo da existência, o intransponível labirinto das estruturas conceituais. O homem não tem saída, está literalmente preso nessa prisão sígnica entre o bem e o mal, entre o pecado e a graça. O sentido mais remoto da idéia de bem está associado à idéia de felicidade, como destino da humanidade; por conseqüência, há o desejo de tender a esse bem como dever manifesto pela consciência. A natureza do bem é um poder que constrange, é uma necessidade racional  que se manifesta na conduta moral e legal.  
         No des/modelar para modelar de novo, mesmo que o homem migre para um novo paradigma, libertar-se-á de uma estrutura-modelo para se tornar cativo de outra. Não há saída, não há forma de romper com o passado sem se abrigar em outras servidões. As nossas idéias nos definem, nos transformam e a luta pelo novo, pela mudança, é continuidade enquanto somos capturados em novos vínculos. Contudo, se é impossível a existência humana sem esse suporte, tal não pode ser absolutizado  com a promoção da cultura da intolerância, a ponto de se tornar difícil a convivência com outras percepções da realidade. Na sociedade pós-moderna, a cultura da intolerância está assumindo proporções perigosas; o divergente/diferente não só não é aceito, como se cria uma série de obstáculos à sua existência no convívio social[22]. O caminho da diversidade na unidade, do pluralismo, da inclusividade,  parece ser a única resposta aceitável. Saber conviver com pontos de vista discordantes   -   o embate das idéias  -  aprofunda ou derriba as nossas certezas parciais, provisórias e precárias[23]; isso só é possível quando não nos submetemos ao germe da radicalização.  
            Aqui cabe uma reflexão maior sobre o problema do pecado e do mal, sob o qual tem se debruçado a filosofia e a teologia durante todo o tempo. A pergunta que tem perpassado o pensamento filosófico e teológico é: se Deus é a infinitamente bondade e onipotência, por que existe o mal, o pecado e o sofrimento? Se permite, onde está a sua bondade e se nada pode fazer, no que consiste a sua onipotência? Esse tem sido o argumento central na negação da existência de Deus. É claro, que esse dualismo grego foi suplantado pela concepção do livre arbítrio. Numa visão teológica, percebe-se que o livre arbítrio existe também nas esferas angelicais, a partir do qual se pode defender a idéia de que o mal é o mecanismo para a afirmação do bem, da mesma forma de que se não houvesse a liberdade de escolha não haveria a meritoriedade das ações humanas. Parece que toda a ação humana só pode ser motivada pelo bem. É um bem que leva o sujeito a agir, mesmo que realize o mal por fraqueza de vontade ou por ignorância. Essa é a tese de Descartes: “omnis peccans est ignorans”. Temos uma vontade orientada para o bem, mas sucumbimos ao mal e ao pecado
            A solução do problema do mal e do pecado parece atingir a excelência especulativa em Agostinho, quando afirma que o  mal não existe, ele é fundamentalmente a ausência do bem e resolve-se mediante a redenção, em Cristo. Para Agostinho, a vontade humana pode ser má, contudo, não é causa eficiente, mas deficiente, visto que o mal não tem realidade metafísica, já que Deus fez boas todas as coisas. Como com o mal o homem não pode lesar a Deus, prejudica-se a si mesmo.
3.     O PECADO E A CULPA NA TRADIÇÃO JUDAICO-CRISTÃ

            A base da civilização ocidental encontra-se engastada nas concepções greco-romanas que absorveram a cultura religiosa judaico cristã. Nesse particular, se insere o problema da culpa. Somos uma civilização dominada pela idéia do pecado e da culpa. O pecado acarreta a noção de culpa e a culpa nos persegue desde crianças, como um fantasma imaginário, que não tem existência real, contudo, continua a assombrar o nosso cotidiano. Quanto ao pecado não há diferença entre os homens: “…todos estão sob o domínio do pecado. Assim está escrito: Não há justo algum, nem um sequer[24]” e ainda, “Do coração dos homens saem os maus pensamentos, as prostituições, roubos, assassínios…[25]”.  A cultura ocidental dominada pela culpa, pelo pecado e pelo medo fez com que Freud se referisse à religião como uma forma de neurose coletiva, onde se aterroriza com o sofrimento eterno, em detrimento do amor, do perdão e da misericórdia de Deus. O cristianismo, principalmente a partir período medieval, passa a ser uma religião causadora de culpa, quando considera de que a nossa natureza é mais voltada para o mal do que para o bem. A idéia de que somos maus por natureza, o sentimento de culpa de nossa maldade, abandono e danação, desenvolve a neurose obsessiva no ser humano, quando a religião deveria priorizar  o perdão e a misericórdia de Deus: “... não fiquem aflitos, nem tenham medo[26]”. Segundo a Carta da Comunidade de Taizé[27], o pecado conduz ao remorso, cuja saída pode ser o desespero ou o arrependimento. O documento de Taizé conclui que talvez não haja arrependimento sem remorso.

            O conceito judaico de pecado foi sendo adaptado através dos tempos. Inicialmente significava a violação do interdito, do tabu, que deveria ser reparado pelos sacrifícios expiatórios. Posteriormente, a idéia de pecado foi se ampliando, passando a distinguir os pecados contra Deus, que podem ser expiados pelo regresso a Deus, retorno (“Teshuvá”, em hebraico) e os pecados contra a humanidade que podem ser reparados pelo perdão daquele que foi agravado.
            Além do mais, a concepção de pecado no judaísmo, assim como nas demais religiões monoteístas, carrega consigo um outro pecado, a idéia da supremacia masculina. Deus, sacerdotes e profetas apresentam valores patriarcais. O mito da criação em Gênesis diz que: “E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher,  e trouxe-a a Adão[28]”.  Mais, a mulher, por ser inferior, provocou a queda da raça humana[29]. Nesse período, o sagrado feminino foi demonizado, declarado impuro, só reabilitado, mais tarde, no cristianismo, através da figura da Virgem Maria. O mito criador ignorou uma verdade biológica que a  ciência agora conhece, com certeza, de que todo o feto humano é feminino nos primeiros dias de vida. A ciência já sabe que primeiro nasceu a mulher, pois, a característica masculina, o “y” vai aparecer mais tarde, no período de gestação.

Nesse contexto, torna-se interessante a visão platônico-agostiniana, no qual o mal que existe no homem não tem existência real (é causa deficiente e não causa eficiente). Isto significa que o mal encontrado na natureza humana não possui substância ou estrutura ontológica, é tão somente a negação do bem ou o não-ser, deste modo, toda essa desordem não tem realidade metafísica. Aspira o existente humano ao perfeito, ao sublime, entretanto,  aprisiona-se em desvalores.

            O homem conhece a realidade dos valores a partir de sua dimensão antropológica,  em relação ao seu próprio ser e em relação ao modelo ideal, não há outro caminho.  Agostinho de Hipona reconhece que o ser é bom, porque despojado de sua bondade deixaria de existir, neste caso, “seja o que for, que tenha qualquer grau de existência, é bom[30]”. “Dessa forma, nem a mesma natureza do próprio diabo é má, à medida em que ele é natureza; no entanto, ela se tornou má ao ser pervertida[31]”. Toda a construção do pensamento parte dos prolegômenos fenomenológicos, das propriedades do homem, passando depois à  natureza metafísica e espiritual, como auto-transcendência ou realidade última do ser. A partir desses pressupostos, o homem lê o mundo. A axiologia antropológica, assume feições de teologia ao situar-se no campo do monoteísmo radical, ou seja, ao admitir plenamente que Deus age no mundo através de leis tendentes à realização última do homem e do universo, através do homem, com o homem e apesar do homem. 

            Para Agostinho de Hipona o mal existente na criação é a ausência de Deus depois da queda original. E, a teologia da graça concilia a causalidade absoluta de Deus com a liberdade humana [32]. Segundo o mestre de Hipona: “a primeira liberdade consiste em estar  isento de crimes ... como seja o homicídio, o adultério, a fornicação, o furto, a fraude, o sacrilégio e assim por diante. Quando alguém principia a não ter estes crimes, (...)  começa a levantar a cabeça para a liberdade, mas isto é apenas o início da liberdade, não a liberdade perfeita[33]”.   O Verbo[34] é o centro da história humana e na compreensão dos dois amores que fundaram as duas cidades, encontra-se implicitamente as noções básicas do mundo das idéias e do mundo das formas, defendido por Platão[35]. “Dois amores contruíram duas cidades: o amor de si levado até o desprezo de Deus edificou a cidade terrestre; o amor de Deus levado até o desprezo de si próprio ergueu a cidade celeste; uma rende glória a si, a outra ao Senhor; uma busca uma glória vinda dos homens; para a outra, Deus, testemunha da consciência, é a maior glória[36]”. Os vinte e dois livros, denominados “A Cidade de Deus[37]”, escritos entre os anos 413 e  426, onde Agostinho de Hipona descreve o Reino de Deus e o Reino do Mundo, não estabelecem qualquer identificação da  “Cidade de Deus” com a Igreja ou da  “Cidade do Mundo” com o Estado. Agostinho de Hipona sabia  perfeitamente  que a Igreja não é o Reino de Deus, mas um sinal  deste Reino; enquanto  o Estado ao apoiar o bem, também se torna um sinal de esperança do Reino. A cidade terrena, com seus antigos ritos e sacrifícios, constituída pelas pessoas más e ímpias[38] é uma cópia imperfeita da realidade e toda a sua existência não passa de sombras e trevas se comparada com a cidade celeste. Na Cidade Celeste, Cristo é o criador da história, antes de sua vinda  a história caminha para ele e, após a sua chegada, tudo reflete a sua presença, como centro para o qual convergem todas as coisas[39]. Essa Cidade Celeste não se torna perfeita realidade aqui na terra, mas dentro de um horizonte escatológico[40] . Por enquanto,  “as duas cidades  -  civitas Dei  e  civitas terrena  ‘permanecem confusamente unidas’  e só quando a razão é  ‘purgada e instruída pela fé’, é que se pode descobrir e entender o propósito da história, o ‘fim da nossa jornada’ e  ‘o nosso caminho para ela’[41].  O mundo sensível é apresentado como cópia, um molde imperfeito do mundo das idéias. Tem-se, assim, uma reedição das  alegorias[42]  de Platão: a alegoria dos dois cavalos alados e a alegoria da caverna.  Na cidade celeste, está presente uma grande recapitulação da "lex creationis et lex revelationis", de importância   metafísica para o cristianismo, pois nela toda a história converge para o Verbo e ele se torna o centro gravitacional de um fenômeno escatológico, realizando o passado, antecipando o futuro e glorificando o presente messiânico. Essa parte é o momento de peroração do pensamento agostiniano, apresentando uma teoria jurídica dentro de um plano  pleno de historicidade no contexto da revelação. É como se alguém espreitasse no horizonte da história e pudesse, ao mesmo tempo, perceber o passado e antever o futuro, descobrindo o alfa e o ômega da história, numa visão unitária.  Na lei divina, apreendida pela iluminação, presentes acham-se, também, os conceitos eternos e imutáveis da  alma humana, sendo a lei natural uma emanação dessa realidade; já a cidade terrena, satânica por natureza[43] , por afastar-se da lei eterna, despreza as coisas do alto e está condenada à punição eterna. Na separação  entre as duas cidades, ainda que não sejam antitéticas, há uma certa semelhança com a filosofia platônica. Enquanto Platão admite a conciliação dos opostos, sair do mundo das trevas e chegar ao mundo luminoso das almas por meio do conhecimento; Agostinho, fiel à mais antiga tradição bíblica, fala na danação eterna e na redenção através do Verbo. 

            Examinando-se o pensamento platônico-agostiniano, em que ambos falam de uma danação eterna, socorre ao autor  a argumentação de que, para haver o triunfo final do bem sobre o mal, há necessidade de que o mal desapareça e o Verbo, “cheio de graça e de verdade[44]”, arrebate a si todas as coisas, como rei e senhor do universo. Sabe-se, de antemão, que a teologia bíblica não conduz a esse raciocínio, entretanto, se o mal continuar, como ausência do bem além da parusia[45], reafirma-se, de algum modo, o eterno dualismo maniqueísta[46]. Porém, o exame desta problemática se procede a título de argumentação teórica, sem contraditar a ortodoxia da doutrina e fé Cristã.  Em Agostinho há um fascínio pelo exame da realidade, dividindo sempre o mundo entre dois opostos, o bem e o mal. Tillich  afirma que “Agostinho combateu por um caminho que mediasse entre o maniqueísmo e o pelagianismo[47]”. Neste aspecto, o que parece diferenciar o pensamento  agostiniano do maniqueísmo  é  a compreensão do mal como ausência do bem, sem o eterno dualismo maniqueísta e, mais precisamente, o anti-dualismo agostiniano se manifesta na defesa do ser como bom. Todo o ser é bom, pelo simples fato de existir,  está incluído no amor divino.

            A lei eterna é a suprema ordenação de todas as coisas: a lei eterna é a harmonia que existe no Criador, manifesta na criação como lei natural, ou nas próprias palavras de Agostinho de Hipona é  “a razão ou a vontade de Deus que manda observar a ordem natural e proíbe alterá-la” [48]. Essa ordem divina se transmite aos seres inanimados como força cega, nos animados como necessidade do instinto. E, no homem, como ordem moral que se manifesta na  "obediência à verdade"[49]. É impossível aos seres inanimados e aos animais desobedecerem a esse ditame natural, entretanto, ao homem por ser dotado do livre arbítrio, da liberdade de escolha, tal desobediência é possível. E face à queda original, o  homem e toda a natureza, como diz São Paulo,  encontram-se como que num processo de parto até que tudo se consuma no todo[50]. Assim, na visão platônico-agostiniana, o mal que existe no homem é causa deficiente e não causa eficiente. Isto significa que o mal encontrado na natureza humana não possui substância ou estrutura ontológica, é tão somente a negação do bem ou o não-ser, deste modo,  toda essa desordem não tem realidade metafísica. Aspira o existente humano ao perfeito, ao sublime, entretanto,  aprisiona-se em desvalores.   
  
            Por conseguinte, poder-se-á afirmar que o pecado e a injustiça consistem, essencialmente, no afastamento do homem do fundamento axiológico do ser, como já o era para  Kierkegaard (1.813-1.855)[51], trata-se da  falta de relação existencial entre o indivíduo e seu objeto ou a ausência de uma síntese entre eternidade e tempo, quando o homem se afasta do estágio religioso ou absoluto[52]. Consiste no distanciamento do valor-bem superior, o que coincide com a idéia de pecado.

4.      CONCLUSÃO

       No estudo do documento do Concílio Vaticano II, Gáudium et Spes[53],  percebe-se que a própria Igreja Católica abandonou a idéia de que o homem é um pecador condenado à danação eterna, para admitir de que o homem possui uma dignidade sem igual, um valor intrínseco, em nome da qual o Concílio defendeu uma liberdade religiosa do tipo protestante, fundada na liberdade de consciência, quer dizer, na opinião individual em matéria de fé e não no princípio católico de autoridade[54]. A Gaudium et Spes  afirma categoricamente que Cristo “restaurou na descendência de Adão a semelhança divina, alterada desde o primeiro pecado (a primo peccato deformatam)”. Assim, a idéia legalista de culpa perdeu o seu lugar na teologia católica, não se enaltece mais a cruz como resgate de culpa, mas como o símbolo da Ressurreição, da vitória da vida sobre a morte.

         Assim, o homem como um ser em busca  da graça, em busca de plenitude:
       
4.1  -  A dinâmica da vida: a dinâmica da vida  caracteriza o homem como um ser em busca de plenitude. Um ser inacabado e insatisfeito que caminha para além do que é e do que tem. Todo o questionamento filosófico e científico resume-se na busca das respostas fundamentais para a existência do homem e das coisas. A dinâmica da vida humana na concepção platônica, dá-se através do conhecimento intelectual, como reminiscência do mundo das essências, esse conhecimento é universal, imutável e absoluto. Em "Fédon"[55],  Platão afirma que os filósofos serão libertados da matéria para sempre. A dinâmica da vida para o Absoluto, em Agostinho de Hipona,  encontra-se também resolvida pelo iluminismo platônico, porém  o conhecimento intelectual é dependente da luz espiritual do Verbo, centro da história humana. A dinâmica da vida para o Absoluto, na visão de Paul Tillich, carateriza-se na correlação  "eu-mundo" e essa situação de desespero, de degredo causada pelo pecado, sem respostas para o paradoxo da existência, predispõe o homem a escutar a Palavra revelada[56].  O que leva o homem a sair do convencional, da faticidade e caminhar em direção ao mundo metafísico e teológico, para encontrar respostas para a vida, são as suas terríveis limitações, o medo do pecado, do aniquilamento total e, ao mesmo tempo, o desejo incontrolável de romper a casca dos estreitos limites, onde se desenrola o drama humano. Numa palavra, a "episteme" é fruto da contínua busca de perfeição, descrita por Platão[57].

4.2  -  A necessidade de romper os condicionamentos estabelecidos pela facticidade: na dinâmica da vida são importantes três aspectos que expressam a esperança do homem em romper certos  condicionamentos acarretados pelo pecado e pela  culpa:

            marco situacional:  compreende a realidade em que se está inserido. Uma sociedade pluralista, competitiva e imediatista, onde predominam as características de influência e de poder, locuplemento e promoção pessoal, de pecado estrutural, embora que em alguns casos haja fins altruísticos, fica-se no terreno da imanência;

            * marco referencial: interagindo sobre o marco situacional e os contextos comunitários marcados pelo egoísmo, desponta um caminho, uma utopia possível que liberta o homem dos condicionamentos confinantes. Tem-se como muito difícil o abandono do pecado do egoísmo, algo que se introjetou desde tempos imemoráveis ou, especificamente, desde a queda original. Contudo, vários homens e algumas comunidades ao longo da história [58] conseguiram viver a magia espontânea do amor que liberta e transforma, através do advento da comunidade físico-espiritual, onde os homens são partícipes de um processo de profunda interação. Esta  "civilização do amor"  não é  o amor como um fim em si mesmo, levando as pessoas para a esfera de influência e poder pessoal, mas a superação do egoísmo, algo  novo que vem de cima e impele o homem a caminhar em direção ao outro. No pensamento agostiniano a comunidade físico-espiritual é solidariedade, participação e serviço, como koinonia vertical e horizontal; 

            * marco operacional: como  “modus agendi” do marco referencial, dentro de uma perspectiva de coerência, é importante que as distinções temporal-espiritual, sagrado-profano e natural-sobrenatural sejam superadas. Esse dualismo que caracteriza a vida espiritual e a realidade concreta, como distintas e irreconciliáveis, não pode subsistir. Caso contrário, a primeira será sempre um enxerto artificial que se tenta inserir na realidade da vida. A vida espiritual não é distinta do cotidiano, não é um não-mundo ou um antimundo. Apesar do dualismo ontológico, não existe o mundo inteiramente desdivinizado e o mundo sacralizado. Na concepção do platonismo agostiniano, o mundo de aparências descobre aqui a  "anamnesis"[59], despertando a reminiscência do mundo verdadeiro que ainda habita as profundezas da alma humana, ou a Cidade de Deus também se realiza parcialmente neste mundo, aliás, aqui é o grande palco de manifestações da Cidade Terrena e da Cidade Celeste[60]. O pecado não tem existência real, ele é a ausência da graça e todos os homens, redimidos por Cristo, gozam da mesma vocação divina.

            Sempre cabe enaltecer os insondáveis desígnios de Deus, “onde abundou o pecado, superabundou a graça de Cristo[61]”. Por isso, dizemos com Agostinho: “Ó feliz culpa! (de Adão e Eva) Que nos trouxe o benefício de um tão grande Salvador!”.

            Ainda existe o pecado?  Sim, o pecado existe, ele é, em última análise, um ato de desamor.  Só o amor é a eterna inocência, ninguém sabe quando vai amar, porque ama e o que é o amor. “Os que se abandonam no amor, esses não pensam na generosidade de seu gesto, no pecado ou na virtude, nem na promessa de recompensa. Dão o seu amor, simplesmente, para continuar a viver”.  ESTAMOS NA VIDA PARA APRENDER A AMAR!
        



[1] TILLICH, Paul. Philosophie de la religion. Labor et Fides, 1971.
[2] PADOVANI, Humberto. História da filosofia. São Paulo:  Melhoramentos, 1967,  p. 55.
[3]Aranha, explicitando essa realidade, afirma: “Eis aí a diferença fundamental entre o homem e os animais. Mas, para produzir cultura, o homem precisa da ‘linguagem simbólica’. Os símbolos são invenções humanas por meio das quais o homem pode lidar abstratamente com o mundo que o cerca... Além disso, com a linguagem simbólica o homem não está apenas presente no mundo, mas é capaz de reproduzi-lo: isto é, o homem torna presente aquilo que está ausente.”  (ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e Maria Helena Pires Martins. Temas  de  Filosofia. São Paulo: Moderna Ltda., 1992,  p. 29).
[4] MAGALHÃES, Rui. Textos de Hermenêutica. Porto: Rés-Editora Ltda, 1984,  p. 7.
[5] A idéia de  culto sacrifical, como oferenda de expiação, está presente nas antigas tradições de muitos povos. Vide I Sm. 6,3.
[6] Gusdorf apud  ARANHA,  Maria Lúcia de Arruda, in Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1991, p. 28, e 102.
[7] SILVEIRA, José de Deus Luongo da. As várias faces do direito. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2001,  p. 19.
[8] Já no período neolítico, começa a construção de habitações, a prática da fiação, da cerâmica, as divisões sociais, a estrutura de normas consuetudinárias gerais, o esboço da organização estatal e o controle político exercido por um chefe que congrega todos os membros da clã (CARBALLERO, Alexandre. O ser em si e o ser para si. RBF, v. 46, 1968,  p. 12-13).
[9] Ex. 32,6; Dt. 12,18; Jz 9,27;  Sf. 1,7; Ex. 34,15; Ism. 9,12ss; II Rs. 10,19.
[10] Ez. 44,24ss; 40,39; 45,21ss; Mq. 6,7; II Rs. 12,17, etc.
[11] Lv. 21, 6,8, 17; 22,25; I Sm. 21, 7; Ex. 25,30, etc.
[12] O rei Acaz queima em sacrifício o seu próprio filho a um deus pagão. Vide 2 Rs. 16, 3
[13] Lv. 20,1-5
[14] ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e Maria Helena Pires Martins. Temas  de  Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992,  p. 63.
[15] VERNANT, Jean-Pierre. As  Origens do Pensamento Grego. São Paulo: Difel, 1977, 297.
[16] GUSDORF, Georges. Mito e Metafísica. São Paulo: Convívio, 1979,  p. 102.
[17] SILVEIRA, José Luongo da. Noções preliminares de filosofia do direito. Porto Alegre: Fabris, 1998, p. 25.
[18] Sl. 38 e 41.
[19] Mt. 9, 1-8.
[20] Nietzsche, no entanto, rompe com a idéia de se imolar pela verdade, afirmando: “Morrer pela verdade. - Não nos deixaríamos queimar por nossas opiniões: não estamos tão seguros delas. Mas, talvez, por podermos ter nossas opiniões e podermos mudá-las.” (apud Candido. A Crise dos Paradigmas Modernos. 1995, p. 1 (http://www.hotnet.net/~candido/paradigmas.html).
[21]Gouldner descreve a ideologia como “o reino da exaltação do espírito, onde habitam o doutrinário, o dogmático, o apaixonado, o desumanizante, o falso, o irracional e, é claro, a consciência extremista.” In: The Dialectic of Ideology and Technology, London, 1976, p. 4 (apud EAGLETON, Terry. Ideologia. São Paulo: UNESP., 1997, p. 18).
[22] Marcos Rolim: “Vivemos uma cultura de intolerância, de não aceitação das diferenças. Basta olhar os prédios e as ruas que não foram planejadas considerando os portadores de deficiência física. Os programas infantis são apresentados por loiros, os surdos não têm reconhecida sua linguagem, os homossexuais são ridicularizados, os soropositivos perdem empregos e os doentes mentais são condenados à incapacidade e periculosidade.” (In: A Assembléia combate ‘cultura da intolerância’, Correio do Povo, Empresa Jornalística Caldas Júnior, Porto Alegre, 14.08.1999, p. 7).
[23] As verdades absolutas podem ser admitidas num  plano metafísico e espiritual. No mundo fenomenológico não há verdades absolutas, caso contrário como poderíamos explicar os avanços da ciência (Vide KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo:Perspectiva, 1975). 
[24] Rm. 3, 9-10.
[25] Mc. 7, 21.
[26] Jô. 14, 27.
[27] Carta de Taizé, 2003/5. Disponível em:
 < http://www.taize.fr/pt/index.htm?page=/pt/ptsr503.htm>. Acesso em 30 de jul. 2004.

[28] Gn. 2, 22.
[29] Id. 3, 6.
[30]AGOSTUNHO. Confissões. Paris: Opera onmia, 1938,  p. 46.
[31]Id. De Civitate Dei, XIX, 13. Paris: Opera Onmia, 1838.
[32]Humberto Padovani. História da Filosofia. São Paulo, ed.Melhoramentos, 1967,   p.115, 117,  210, 211.
[33]Agostinho de Hipona. in Iohannis Evangelium Tractatus, 41,10: CCL 36, 363.
[34]Chistós: adjetivo verbal grego para traduzir do hebraico a expressão  "Meshiah", que significa  "o Unigido do Senhor".
[35] AGOSTINHO. De civitate Dei, XIV, 28. Paaris: Opera onmia, 1838.
[36] Id. De Civitate Dei.
[37]Reino de Deus: expressão aramaica (Malkuth), que aparece 40 vezes em Lucas, 7  vezes em Atos dos Apóstolos e 8 vezes nas cartas paulinas, significando a glorificação  final, quando terminar este tempo, com o advento da plena comunidade pascal.
[38] AGOSTINHO. De civitate Dei,  X, 4-6. Paris: Opera onmia, 1838.
[39] Id. Livros XV, XVI, XVII e XVIII.
[40]Scatón: palavra grega que significa mundo novo, mundo vindouro, além do tempo. E  também pode designar o momento entre o  "já" e o  "ainda não", entre uma visão escatológica presente e a visão escatológica futura.
[41]Agostinho de Hipona. De Civitate Dei. Liv. XI, caps. 1 e 2; cit. por Alan Richardson, in Apologética Cristã. Rio de Janeiro: casa Publicadora Batista.
[42]Alegoria: conjunto narrativo ou descritivo,  de caráter natural, histórico, filosófico ou religioso, onde os elementos simbólicos correspondem aos elementos significados.
[43] AGOSTINHO. De civitate Dei, Livro X. Paris: Opera onmia, 1938.
[44]Jo. 1, 14.
[45]Parousía: parusia, palavra grega que significa estar próximo, ter chegado, estar presente,  presença,  vinda,  volta gloriosa de Cristo no fim dos tempos.
[46]Maniqueismo:  seita filosófico-cristã fundada por Manes, no século III, que afirmava a existência de dois princípios eternos e irreconciliáveis, o bem e o mal, iguais e fundamentais.
[47]Paul Tillich. Teologia Sistemática. São Paulo. ed. Sinodal/Paulinas, 1967, p. 274.
[48]Agostinho de Hipona. Contra Faustum, Liv. 22: Pl 42, 418.
[49]1 Pd. 1,22.
[50]Rm. 8, 22.
[51]Sören Kierkegaard. Ou Um ou Outro e Estágios do Caminho da Vida.
[52]ibidem.
[53] Documento do Concílio Vaticano II. Gaudium et Spes, artigo 22.
[54] Id. cf. infra § 11.
[55]Platão. Diálogos, Fédon. Porto Alegre: Globo, 1955.
[56]Paul Tillich. Teologia Sistemática. São Paulo: Paulinas/Sinodal, 1967, p. 142.
[57]PLATÃO. O Banquete. Porto Alegre: Globo, 1955,  p. 202-212.
[58]Como a de Éfeso e Esmirna, Ap. 2,1-11.
[59]PLATÃO. Fedon, Porto Alegre: Globo, 1955,  73 a, b.
[60]AGOSTINHO. De Civitate Dei, X, 4-6. Paris: Opera onmia, 1838.
[61] Rm. 5, 20.

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